A Maria estava casada e tinha um bom casamento. Faltava-lhe alguma coisa. Dizia que a intensidade, mas não, não era bem isso. Ele era um bom homem, sempre recatado, e dava conta do recado. Uma daquelas pessoas pragmáticas, para quem lacunas de comunhão espiritual não eram sequer apreensíveis. Contentava-se com uma família, dois filhos, basto desafogo económico, umas jantaradas, férias na praia ou em qualquer outro sítio. Invejável, portanto.
Então Maria apaixonou-se. Não sabia se era amor, porque amor já tinha em casa, mas havia uma união, um entendimento, que até ali não soubera possíveis. Ficou muito atrapalhada e carente de compreensão. Quando se reunia com o seu grupo de amigos de longa data, que confidenciavam, quase, tudo uns aos outros, já nem abria a boca. Tal era o receio do julgamento. Surgiu o dia em que foi espicaçada e então contou: tinha-se apaixonado e estava a ser difícil para ela lidar com a traição.
As mulheres do grupo dividiram-se entre a ternura e a reprovação. Os homens perguntaram já houve sexo? O não, foi acolhido por uma gargalhada e, disseram, então não tinha importância alguma: sem sexo não há traição. A minha amiga ficou desapontada com a falta de empatia que o seu drama mereceu, mas também vagamente consolada, porque afinal estava tudo bem. Parecia.
São inúmeros os casos que conhecemos de romances entre pessoas comprometidas que nunca chegam a ver consumação no plano físico. Para as mulheres, as que conheço, a infidelidade é igual, e o compromisso amoroso tão forte pela sedução ou pelas declarações amorosas que o sexo já só vem diluir a fixação. Mas para os homens que se dizem fieis, aparentemente, tudo é permitido, desde que não se chegue ao sexo, pois aí já há traição. Por isso não me venha dizer, Leãozinho, que os homens podem perfeitamente amar uma mulher e ir para a cama com outra. Isso, pelo que tenho assistido, só é pacífico quando a outra é a legítima
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